TODA PALAVRA GUARDA UMA CILADA - NOSSOS BRAVOS E OS DESVÃOS DA MEMÓRIA POPULAR
Ewerton Belico
Nossos Bravos (1987) compõe o bloco inicial da produção em vídeo de Joel Zito Araújo, formado por trabalhos dedicados à memória sindical e operária no Brasil, tais como Memórias de Classe (1989), realizado no ingresso de Joel Zito na Tapiri Cinematográfica, produtora fundada por Renato Tapajós e Olga Futemma que manteve, desde o final da década anterior, uma prolífica colaboração com as oposições sindicais e com a renovação da militância operária a partir do ABC paulista. Nossos Bravos é anterior a essa parceria com a Tapiri, realização do núcleo audiovisual do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) e co-dirigido com o fotógrafo e diretor Peter Overbeck – realizador de carreira proteiforme, cujo portfólio inclui desde a realização de trabalhos documentais mais diretamente engajados como Os anos passaram (1968) até a direção de fotografia de filmes como O Bandido da Luz Vermelha (Rogério Sganzerla, 1968) e Meu nome é Tonho (Ozualdo Candeias, 1970). O ingresso no Dieese se consumou poucos anos antes, quando da mudança de Joel Zito para São Paulo, período ao qual se soma ao trabalho de construção partidária do PT e inicia seu paulatino convívio com intelectuais e artistas que militavam no MNU (Movimento Negro Unificado) na capital paulista.